A morte enquanto personagem ativo, no cinema ou na literatura, tende a ser uma premissa intrigante. Seja ao analisar suas subjetividades ou ao suscitar questionamentos do quão interessante seria, de fato, não morrer, a arte faz-se espaço aberto para conjecturas do tipo, ilustrando a Morte, por exemplo, como empática ou irônica. Tuesday: O Último Abraço é o longa-metragem de estreia da diretora e roteirista croata Daina Oniunas-Pusić, e entra para esse hall de obras a partir de uma proposta curiosa: a tão temida figura que põe fim à vida é um pássaro vermelho vibrante, que muda de tamanho e se comunica diretamente com suas vítimas. O que soa interessante, no entanto, rapidamente se esvai.
Tuesday (Lola Petticrew) é uma jovem bastante doente, incapaz de aproveitar sua adolescência e dependente de constantes cuidados e auxílio para se locomover e realizar tarefas básicas. Sua mãe, Zora (interpretada incrivelmente por Julia Louis-Dreyfus), é quem aparenta pouca lucidez; após perder o emprego, passa seus dias fora de casa no horário do expediente, sem revelar para a filha que não está, de fato, trabalhando. É durante uma de suas ausências que a Morte chega para levar a menina, no que deveria ser um encontro afetuoso para o espectador, mas pouco serve como introdução das personalidades ali postas e, portanto, da futura dinâmica que irão desenvolver.
É nesse aspecto que o longa se desenrola, nos meios e insuficiências. Ao cair de paraquedas em um mundo onde, aparentemente, pouco espanta o esbarro com a figura mortífera de um grande pássaro, os aspectos visuais e narrativos mostram-se medianos, pouco saturados em sua vivacidade – literal e figurativamente. Zora, em determinado momento, come o pássaro, como forma de impedir de que a passagem de sua filha seja concretizada; apesar de seu carisma enquanto personagem, pequeno parece o espaço que ganha para que seja entendido seu processo, suas abdicações e seus dilemas. Parece que a história surge de um ponto tal que parte essencial de compreensão daquelas jornadas já foi estabelecida, sem que o espectador consiga chegar no patamar dos envolvidos e engajar com seus percalços. Aqui, é importante pontuar que obras excelentes muitas vezes carecem de tal didática ou explicação de como se foi parar ali, mas havendo respaldo para o local de partida escolhido. Não é o caso do filme em questão.
Ao tratar de uma adolescente cansada de sua vida como se afigura, de uma Morte exausta de ouvir infinitas vozes em sua cabeça e de uma mãe que evitava encarar a realidade dentro de sua casa, a sensação é de que nada novo é apreendido e pouco é aprendido no decorrer do enredo. A relação entre as duas mulheres floresce brevemente antes de ter sua expiração validada, o dia de um falecimento dado desde o título se resume a poucos instantes emotivos e a presença da figura mítica carrega um peso muito mais brando do que intencionado.
A nova produção da BBC Films e A24 entrega, portanto, uma história que caminha sempre na margem, indecisa quanto ao que pretende explorar, quais questões sugere levantar e incerta em relação ao momento que tenta capturar. Ainda que surja como uma abordagem fresca diante de temas não raros, o longa não sustenta a excentricidade de suas ideias, tampouco ilustra a magia que acredita existir dentro de seu universo. Para além das boas atuações, o uso da forma e a exploração da narrativa acabam por o colocar dentro daquele temido hall de "mais um filme".
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