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Foto do escritorLuiza Lippo

"Notícias de Casa": O Dito e O Não Dito


Frame de "Notícias de Casa", de Chantal Akerman

Um filme brutal em sua sensibilidade, Notícias de Casa (News From Home, 1977) é uma obra sobre o êxodo e a complexidade silenciosa entre mãe e filha. Ao longo de 85 minutos, Chantal Akerman nos conduz por algo que não é dito de forma explícita, mas sim sugerido através da leitura de cartas que sua mãe lhe envia. Essas cartas revelam uma relação cheia de tensões, mas sem um confronto direto, criando uma espécie de diálogo ausente entre as duas.


A comunicação passiva-agressiva da mãe, sempre ansiosa por uma resposta que nunca chega, carrega tanto o medo quanto o desejo de controle do outro. Ao mesmo tempo, a filha, que partiu para explorar o mundo, revela nas suas não-respostas um gesto de afastamento, de recusa. Uma fuga não só da figura materna, mas também do fardo emocional que essa relação carrega. Essa ausência de respostas de Chantal pode ser vista como um grito silencioso por liberdade, mas também um reflexo de sua própria solidão, que ressoa na narração monótona das cartas.


Frame de "Notícias de Casa", de Chantal Akerman

A mãe, que vive uma solidão angustiante, tem sua voz nas cartas permeada por uma mistura de preocupação, frustração e amor, mas sempre acompanhada de uma espera afligente por notícias. O filme, assim, explora como essa comunicação falha entre as duas, e acaba gerando uma "não-relação", onde o silêncio fala mais alto do que as palavras ditas e não ditas.


Enquanto isso, a cidade de Nova York parece estar em segundo plano, como uma presença constante, mas que nunca invade o espaço íntimo do filme. Suas ruas, com barulho e movimento incessantes, servem mais como um cenário indiferente à dor e ao distanciamento entre mãe e filha. A cidade, capturada por Akerman, não é o foco, mas uma imagem recorrente que reforça a sensação de distanciamento.


Mais do que um filme sobre estar em outra cidade e êxodo, Notícias de Casa se torna um retrato das frustrações que envolvem esse vínculo materno. As cartas representam não apenas a tentativa de manter contato, mas também o desejo de manter controle sobre o que foi deixado para trás. Ao mesmo tempo, Akerman está constantemente sendo lembrada de suas raízes e de sua mãe, enquanto tenta, de algum modo, se libertar, sem nunca de fato conseguir.

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