top of page
Foto do escritorWandryu Figuerêdo

Janela de Cinema 2024 | "Terror Mandelão": Pânico Sonoro em Recife

Foto: Divulgação/ Descoloniza Filmes


De repente, a câmera desliza por caixas de som com luzes piscantes, e as frequências visuais e sonoras começam a se fundir, imergindo o espectador em uma experiência que ainda não revela completamente o que "terror" e "mandelão" significam no título. Os cortes aceleram, e figuras com fantasias de palhaço surgem, sincronizando seus movimentos às batidas intensas da música. Surge a pergunta: onde reside o terror? Nas máscaras dos personagens ou no som que, para alguns, soa incômodo?


Nesse ponto, a frase de DJ K faz sentido: ele tem apenas 40 segundos para capturar o público e transformar uma mistura de ruídos na melodia urgente do funk mandelão. Aqui, o terror não está no medo clássico, mas na força de uma estética que choca e fascina, ultrapassando as barreiras do documentário. A obra é um retrato íntimo de homens que, nas periferias, usam a música para expressar desejos, dores e angústias.


Dirigido por GG Albuquerque e Felipe Larozza, Terror Mandelão (2024) acompanha o cotidiano de DJ K e MC Zero K, protagonistas do "Funk Bruxaria" na cidade de São Paulo. Entre depoimentos de amigos e conhecidos, e referências experimentais que levam a potência do funk para a tela, o documentário constroi uma autobiografia sensorial, revelando a intensidade de participar do manuseio artístico, tanto na construção das músicas, quanto no contexto periférico onde estão inseridos.


Exibido na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o filme injetou uma energia pulsante em um festival conhecido por uma abordagem mais seletiva da “experiência cinematográfica.” Foi instigante ver o público se balançando no ritmo do funk em sincronia. No Janela de Cinema, em Pernambuco, a mesma potência sonora transformou a sala de cinema em uma experiência coletiva, como se todos estivéssemos em um baile paulista. Em uma cena, os dançarinos mascarados performam seus movimentos quase de forma didática, aproximando ainda mais o espectador do funk mandelão.


A presença de GG e sua câmera no ambiente de trabalho e convivência dos DJs e cantores se dissolve no cotidiano, e as performances parecem crescer em naturalidade. É como se a câmera deixasse de ser uma presença externa e passasse a fazer parte daquela rotina. Até mesmo a encenação no fundo verde parece menos uma tentativa de realismo e mais um momento de descontração compartilhada, rompendo com a ideia tradicional de documentário.

Foto: Divulgação/ Descoloniza Filmes


A virada na história ocorre quando DJ K é reconhecido internacionalmente por uma crítica do site Pitchfork. Com o lançamento de seu álbum Pânico no Submundo, os cenários dos bailes funks se transformam, e ele parte para uma turnê pela Europa. A narrativa alterna entre registros feitos pelo próprio celular do cantor e a câmera próxima dos diretores. No exterior, DJ K leva consigo a esperança de um futuro mais próspero para sua família, mas há também uma leveza na sua jornada. Essa característica gera uma sensação de intimidade, dividindo momentos banais e divertidos, do reclamar do café da manhã a uma apresentação excêntrica dentro de um apartamento europeu.


Ao fim, Terror Mandelão comunica ao espectador a intensidade musical que aquelas batidas evocam na sala escura do cinema. Em alguns momentos, há um leve desequilíbrio entre os depoimentos e as referências experimentais nas imagens, quebrando o que parece ser a proposição da narrativa de objetivar suas informações. Entretanto, o filme ainda consegue oferecer uma experiência impactante, quase pulsante. É uma obra que parece pedir mais de uma sessão para captar totalmente a presença magnética de DJ K, GG e Felipe Larozza.


Ele não tá mais produzindo, tá fazendo bruxaria (tá fazendo bruxaria).

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page