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Foto do escritorRoger Portela

“Horizon: An American Saga” e a nostalgia de Kevin Costner

Foto: Reprodução/Warner Bros

Horizon: An American Saga - Chapter I é, acima de tudo, sincero e, talvez por isso, ingênuo.


O grande projeto megalomaníaco de Kevin Costner, que assina a direção e um roteiro a quatro mãos, ao lado de Jon Baird, é um épico maximalista (cinema de grandes proporções, buscando megalomanias e excessos) do faroeste, sobre uma miríade de personagens que buscam, por diversos motivos e de diversas maneiras, seu lugar nos Estados Unidos; uma corrida pelo American Dream nos anos em que surgiu; a promessa de um lugar melhor nessa terra ainda não completamente desbravada. ssa busca se dá de forma sentimental, ou seja, interna em seus personagens, mas principalmente de forma física, desejosos de ter um pedaço de terra e se estabelecer. Isso surge na existência de Horizon, a cidade que oferece as terras que eles querem. Uma promessa que os faz sonhar, que carrega em seu nome esse significado de busca, o horizonte a ser encontrado.


Nessa busca por um lugar idílico, mesclada à visão maximalista do diretor, o filme torna-se esse local de composição de imagens belíssimas no que tange à natureza. O olhar de Kevin Costner é de adoração pela terra de seu país. As montanhas, os rios, os prados, é tudo fotografado de maneira esplendorosa, a dar um tom parnasiano ao filme que, aliado à proposta, constrói esse cinema de saudades. Essa idolatria pelo seu país e pelas histórias de sua fundação monta um filme esteticamente ingênuo. É um sonho de um passado imaginário, que não existiu, mas que nasce numa lógica mítica. A intenção, presente nos seus personagens, no ritmo e na trama aproximam esse filme da efervescência impressionada desse período presente nos western antes da Segunda Guerra Mundial.


Nesse sentido, é um filme que busca uma certa memória dos primeiros anos do cinema, uma nostalgia do diretor por tempos que não voltam mais. O próprio Kevin Costner apresenta-se na tela como um herói da mesma maneira que John Ford filmara John Wayne. Para além dele, os demais personagens, simples, tornam-se puros arquétipos existentes no imaginário western, apresentado seja nas histórias desse período nos EUA, seja nas centenas de filmes do gênero. E assim, dificilmente ultrapassam essa linha, sendo durante toda a duração do filme essas figuras arquetípicas.

Foto: Divulgação/ NewLine Cinema

Entretanto, o filme não vive apenas da memória de um cinema que ficou no passado e já foi superado. Ele busca ser também uma homenagem aos primeiros que seguiram para esse oeste mítico, uma homenagem aos jovens soldados da guerra civil americana e também àqueles que ficaram para trás, suas esposas e familiares. Há uma ingenuidade formal nessa maneira de apresentar o mundo e seus personagens, de olhar esse passado de glória. É como um filme-criança, que olha esse mundo muitas vezes difícil, complicado e complexificado, mas olha com paixão e felicidade. Não se importa com todas as problemáticas pois busca a beleza desse mundo já passado. De certa forma, essa ingenuidade corre para o caminho contrário do cinismo que o cinema contemporâneo busca, e acaba entregando alguns momentos interessantes que pendem para um melodrama, mas que de vez em quando abraçam uma pieguice. É nessa fronteira que ele trabalha, mesmo que quase sempre acaba pendendo para o segundo.


Ser piegas não é ruim, mas em diversos momentos o melodrama erra o tom e percebemos que é intervenção do diretor buscando o choro. Nessa inocência nostálgica, ele parece mais preocupado com momentos do que de fato criar essa ligação sentimental de seus personagens com o público. Quase sempre suas cenas mais dramáticas soam falsas.


No fim, o filme busca em suas imagens e personagens essa nostalgia por anos em que filmes poderiam ser mais sinceros. Ele abraça essa estética ingênua e inocente, indo na contramão dos exemplos mais contemporâneos dos filmes do mesmo gênero, que buscam ser mais críticos. Ao passo em que funciona como uma novidade, acaba sendo canhestro na sua execução. O horizonte que Kevin Costner busca no azul do céu americano, nas montanhas avermelhadas e nos rios límpidos nunca alcança o horizonte de seus heróis, de Howard Hawks, de Cecil B. DeMille e, acima de tudo, de John Ford.


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