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"Código Preto": mentiras e casamento

Foto: Divulgação/ Universal Pictures Brasil
Foto: Divulgação/ Universal Pictures Brasil

Código Preto (2025, dir. Steven Soderbergh) segue uma semana da vida de George Woodhouse (Michael Fassbender), agente de inteligência do governo britânico encarregado de descobrir o traidor responsável por vender um malware que põe em risco a vida de milhares de pessoas; os suspeitos são cinco colegas de trabalho, incluindo sua esposa; especialista em detectar mentiras, George se vê forçado a pôr à prova seu próprio casamento. 


Escrito por David Koepp (O Quarto do Pânico, Missão: Impossível) é o thriller de espionagem mais contido que já assisti. Dentro de seus 93 minutos, tudo é equilibrado para entregar uma narrativa perfeitamente amarrada, capaz de demandar a atenção do espectador com diálogos rápidos entrecortados por silêncios pesados, nunca cedendo ao impulso de empanturrar quem assiste com exposições ou afogá-lo em sequências de ação; a sensação que fica para quem vê é a de ser tratado quase como um partícipe, tão entranhado na solução daquele mistério quanto o personagem principal. 


Código Preto é um tipo de filme que só funciona com um elenco muito afinado. Aqui o estoicismo de Fassbender contracena com as diferentes personalidades incorporadas por Thomas Burke, Marisa Abela, Naomie Harris e Regé-Jean Page (mostrando que quer ser o próximo James Bond), pontuando cada interação com um quê de desconfiança; ao abandonar sua dúvida metódica com a esposa, interpretada por uma Cate Blanchett tão magnética quanto elusiva, o filme parece acender um alerta vermelho, implorando pela desconfiança do espectador. 

Foto: Divulgação/ Universal Pictures Brasil
Foto: Divulgação/ Universal Pictures Brasil

Se Soderbergh (Onze homens e um segredo, Logan Lucky) brinca com o aparato visual do gênero, enchendo a tela de arranha-céus espelhados e uma paleta de cores acinzentada que acena para os filmes de 007 — inclusive com a presença solene, embora, talvez, subutilizada de Pierce Brosnan —, o filme deixa claro que seu foco ali é outro, muito mais intimista. 


A trama de espionagem, terreno fértil para personagens ardilosos, é o álibi perfeito para o filme investigar a dança entre verdade e mentira e a possibilidade de se construir uma relação honesta sem renunciar a todos os seus segredos. Suas melhores cenas me lembraram de O Convite (2015, dir. Karyn Kusama) ao soltar seus personagens em um espaço fechado e deixar que o filme se faça de interações cada vez mais carregadas.


Aqui, mais que espiões, são três casais sentados em uma mesa de jantar tendo seus segredos escrutinados, lutando para sobreviver ao jogo de palavras instado por George — em disputa não mais a segurança nacional, mas a sobrevivência de cada relacionamento, iniciando uma conversa elétrica sobre confiança, privacidade, ambição e lealdade.


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