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Foto do escritorTainá Brasileiro

Janela de Cinema 2023 | Janela de Criação I


A sessão Janela de Criação I apresentou quatro curta-metragens, todos compostos por uma equipe formada de modo aleatório, visto que, antes das produções, os participantes não se conheciam, criando uma nova perspectiva em relação ao fazer audiovisual. Com vozes diversas, incluindo representantes do meio acadêmico e do mercado, os filmes foram todos guiados por um olhar afetivo em relação ao Cinema São Luiz. Dessa forma, as obras ganharam uma nova sensibilidade por terem sido gravadas antes do fechamento provisório desse importante espaço cultural e por serem exibidas posteriormente no Cinema da UFPE, que também enfrentou um período de fechamento e necessita de atenção para evitar, novamente, tal consequência em futuro próximo.


Divino Caos


A primeira obra exibida na sessão Janela de Criação I, Divino Caos explora a ideia de criação de mundos e domínio sobre esses universos através do cinema. Uma produção de caráter simples, porém, narrativamente potente, o curta-metragem conta a história de um projecionista que manuseia as linhas temporais do mundo exterior da cabine por meio de películas cortadas. Essa manipulação permite que as ações vistas da janela da sala de projeção, o trânsito na Ponte Duarte Coelho, a circulação das pessoas na Rua da Aurora, tenham um novo sentido e uma organização diferente da comum. A razão disso se dá pela desordem causada quando o projecionista decide embaralhar as películas caoticamente, fazendo jus ao título do filme. Contudo, ainda nesse desarranjo, existe uma harmonia entre os elementos, a qual é representada pela musicalidade presente no fim do curta-metragem zelosamente bem montado.


Delírio


Delírio foi o segundo curta-metragem exibido na sessão Janela de Criação I e nele são discutidos temáticas sobre representação e gênero, além de indagar se existe uma estética dominante nas salas de cinema e como esse padrão exclui alguns grupos, tanto ideológica quanto geograficamente. Na história, uma travesti vai pela primeira vez ao cinema, já adulta, e tem um choque ao encontrar apenas casais heteronormativos representados naquele espaço. A tentativa de reinventar esse paradigma é se colocar nas telas, artifício construído pela montagem do filme, que tem um perfil levemente experimental, contando, assim como a obra anterior, com a musicalidade para realçar as escolhas estéticas. Portanto, é visto na tela do Cinema São Luiz a protagonista junta a outros corpos dissidentes que dominam os enquadramentos e assumem esse lugar de poder da autorrepresentação.


Tela Branca


Conectando-se ao filme anterior, Tela Branca também incita questionamentos em relação ao acesso à cultura, colocando em jogo do “quem faz” essa cultura e “para quem”. No início do curta-metragem é mostrado um garoto na bilheteria do Cinema São Luiz contando as moedas para comprar um ingresso. Logo após conseguir entrar na sala de cinema, o protagonista encontra um novo obstáculo, posto que, por estar em um idioma estrangeiro, torna-se difícil se familiarizar com a história do filme. Então, são dessas construções narrativas e visuais de onde é tirada a ideia central da obra Tela Branca: criticar as privações monetárias e intelectuais as quais circundam o Cinema. Isso fica claro pela escolha de criar uma tensão na cena da bilheteria, com o garoto contando moeda por moeda em um plano fechado, e seu semblante entediado na sala de cinema durante a exibição do filme, o qual é apresentado apenas de forma de áudio.


Nascente


Dentre os quatro curtas exibidos na sessão Janela de Criação I, Nascente é o projeto com maior perfil ensaístico se destacando nesse aspecto. Mostrando uma rica construção imagética através das sobreposições de corpos e projeções cinematográficas, o filme acompanha uma mulher a qual vai ao cinema e lá ela se junta ao movimento da tela com seus próprios movimentos, os quais são análogos ao mar. Também contando com uma boa composição sonora, a obra casa o que é visto metaforicamente com o som proposto na realidade pelas águas da “nascente”.


Esta crítica faz parte da cobertura do XIV Janela Internacional de Cinema do Recife.

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